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quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Relatório do IPCC afirma que alterações climáticas resultam da ação humana

O "Resumo para Tomadores de Decisão do 4º Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental de Mudança do Clima (IPCC, sigla em inglês) – Base Científica" foi apresentado na última sexta-feira (2), em Paris, na França. O texto final do Resumo foi aprovado após quatro dias de discussões entre representantes dos países-membros do Painel, incluindo o Brasil. O IPCC é vinculado ao Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e a Organização de Meteorologia Mundial (OMM). Segundo o Relatório, as influências antrópicas (causadas por atividade humana) sobre o sistema do clima cresceu desde a última divulgação, em 2001, e que o efeito das atividades humanas conduz ao aquecimento do Planeta. O documento afirma, assim, que é "muito provável" - probabilidade maior que 90% - que o aumento de temperatura observado desde a metade do século 20 seja resultado do aumento das concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera, provocados por atividades humanas. O relatório de 2001 afirmava que era apenas "provável". Constata, ainda, que as concentrações de dióxido de carbono (CO2), metano e óxido nitroso, principais gases de efeito estufa, cresceram consideravelmente desde o início da revolução industrial (1750), como conseqüência das atividades humanas, sendo as emissões de CO2 resultado, principalmente, do uso de combustíveis fósseis e, em menor escala, da mudança do uso da terra (conversão de florestas) e as emissões de metano e óxido nitroso, proveniente das atividades agrícolas. O Relatório diz, ainda, que o aquecimento do sistema climático é inequívoco, comprovado pelas observações das temperaturas do ar e dos oceanos, pelo derretimento das geleiras e o aumento do nível do mar. Projeta, para as próximas décadas, um aumento esperado de temperatura de 0,2ºC, por década, mesmo que as concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera se mantivessem constantes nos níveis de 2000. O aumento de emissões, acima dos níveis atuais, conduziria a aumentos de temperatura até o ano de 2100, na faixa de 1,8ºC a 4ºC, dependendo do cenário socioeconômico avaliado. O relatório estima, também, um aumento do nível do mar entre 18 cm e 59 cm, até 2100. Entre as conclusões está o alto grau de confiança em um aumento dos eventos climáticos extremos, incluindo um aumento de episódios de temperaturas muito altas e chuvas abundantes. O relatório prevê, também, o aumento da intensidade dos ciclones tropicais. Essa publicação aborda apenas as questões relacionadas à ciência do clima, e será seguido por dois outros relatórios, um dedicado aos estudos de vulnerabilidade e adaptação à mudança do clima, a ser divulgado em abril, e outro abordando os aspectos de mitigação (ações para redução das emissões líquidas antrópicas de gases de efeito estufa), a ser divulgado em maio. As informações do Relatório são resultado de dois anos de estudos de cientistas de todo o mundo baseados na avaliação de publicações sobre o tema nos últimos cinco anos. Esse trabalho contou com a participação de cientistas brasileiros, tanto em sua redação, como nas diversas etapas de revisão. Brasil Diferentemente dos países desenvolvidos, onde a principal fonte de emissão é o uso energético de combustíveis fósseis, no Brasil, a maior parcela das emissões líquidas estimadas de CO2 é proveniente da mudança do uso da terra e florestas, em particular do desmatamento para o uso agropecuário. Em função da elevada participação de energia renovável na matriz energética brasileira, pela geração de eletricidade a partir de hidrelétricas, pelo uso de álcool no transporte e bagaço-de-cana e carvão vegetal na indústria, a parcela das emissões de CO2 pelo uso de combustíveis fósseis no Brasil é relativamente pequena. Além disso, observa-se que o consumo energético brasileiro é ainda modesto, quando comparado aos países desenvolvidos. Assim, estima-se que as emissões líquidas devidas à conversão de florestas para outros usos respondam por cerca de 75% do total das emissões anuais no período de 1990 a 1994, totalizando cerca 780 milhões de toneladas de CO2 em 1994, e as emissões do setor energético representem 23% do total, estimadas em cerca 240 milhões de toneladas de CO2, dos quais 40% referem-se ao consumo de combustíveis no transporte. Os processos industriais, como a produção de cimento e cal, respondem pelos 2% restantes. O período de 1990 a 1994 corresponde à informação oferecida à Convenção das Nações Unidas sobre Mudança Global do Clima na Primeira Comunicação Nacional, e os trabalhos para sua atualização deverão ser encerrados até 2009, quando será apresentado o inventário brasileiro para o período de 1995-2000. Ações brasileiras A mitigação visa tornar menos severa a mudança do clima, por meio da redução das emissões de gases de efeito estufa ou pelo aumento de remoção por sumidouros. Nesse sentido, diversas ações no Brasil contribuem para a mitigação do aquecimento global do clima como o combate ao desmatamento, o uso de energias renováveis, em especial de álcool e bagaço de cana-de-açúcar, para o uso de combustível e do biodiesel como alternativa de diminuição da dependência dos derivados de petróleo, estabelecendo um novo mercado para as oleaginosas. Além disso, o uso de energia eólica (dos ventos) e solar, entre outros. No âmbito do Protocolo de Quioto, o Brasil contribui no combate ao efeito estufa por meio do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), havendo atualmente mais de 200 projetos em diferentes estágios de implementação. IPCC O Painel consiste na reunião dos maiores cientistas especialistas em suas áreas para avaliar a literatura científica sobre mudança do clima. Conta com uma pequena estrutura administrativa – cinco pessoas – e convida os cientistas do mundo, especialistas em mudanças climáticas, a participarem, de modo voluntário e não remunerado, da elaboração de Relatórios de Avaliação periódicos sobre o status da ciência do clima, por meio de revisão da literatura científica publicada na área de mudança do clima. Os relatórios são publicados em geral a cada cinco anos. Além dos relatórios de avaliação, o IPCC também elabora relatórios temáticos especiais, conforme solicitação da comunidade científica ou da Convenção sobre Mudança do Clima. Os relatórios do IPCC estão organizados em três volumes, sob a responsabilidade de três Grupos de Trabalho. O Grupo 1 trata da avaliação da ciência da mudança global do clima. O Grupo 2, ocupa-se da avaliação dos seus impactos, enquanto que o Grupo 3 cuida dos aspectos sociais e econômicos associados às medidas de mitigação. Embora todos os três sejam importantes, o relatório do Grupo 1 tem um papel fundamental no processo.
Assessoria de Imprensa do MCT
Ministério da Ciência e tecnologia
Veiculada em 07/02/2007