Filhos da pátria que os pariu
Robson Alves Ribeiro* 18/05/2009
Para iniciar qualquer que seja o projeto ou iniciativa, a maior das dificuldades é exatamente o princípio. O primeiro passo. Isso porque é somente por nós mesmos que criamos essas dificuldades, ora por idealizar demais, ora por dar mais atenção ao que os outros possam pensar, por falar ou mesmo por nos criticarmos demais. Tudo por um simples motivo: a maioria de nós ainda tem ética e sabe a importância de respeitar o próximo e o que é do próximo. E tudo isso vem do berço. Ou seja, da forma que fomos educados, não somente por palavras, mas principalmente por exemplos de ações que nossos pais praticavam dentro e fora do lar.
O parágrafo acima é apenas uma introdução ilustrativa e exemplificada para nós, eleitores, da responsabilidade que temos para com os nossos filhos em comum, que são os POLÍTICOS.
É isso mesmo! Os políticos são os nossos filhos!
Isso porque se não participássemos do ato de votar, o que acaba por resultar na geração de um político, seja ele presidente da república, senador, deputado federal, governador de estado, deputado estadual, prefeito ou vereador, eles não estariam onde estão. E é da nossa responsabilidade educar esses filhos. Pois a democracia tem o seu preço, e no nosso país a democracia está até certo ponto se tornando cara demais, mas isso tudo por conta do fato de a maioria de nós não dedicarmos um tempo para saber dos atos de nossos filhos. E quando sabemos das “traquinagens” que estão a praticar, ficamos revoltados com eles.
Mas, se analisarmos bem, temos que ficar é revoltados conosco mesmo. Pois se estão a praticar atos delituosos, é por pura responsabilidade nossa. Pois muitos dos pais, os eleitores, acreditam que após o ato de votar, não temos mais qualquer responsabilidade. E muitos entregam essa responsabilidade para a imprensa, fazendo dela como se fosse uma babá.
É claro que o papel da imprensa, além de divulgar e opinar, é também o de fiscalizar. Mas esse último, o papel de fiscalizar, deveria ser mais nosso, do eleitor, do que da imprensa. Como a imprensa é também formada por eleitores, não foge dela também essa responsabilidade de fiscalizar. Existe esse vácuo, e acabou a imprensa tomando para si essa responsabilidade sozinha. Quando a imprensa nos dá ciência do que está a acontecer, como pais que tomam conhecimento de atos de qualquer filho sem limites, o político diz que é mentira ou que a imprensa está é conspirando contra ele – ou eles.
Porém, tal como em qualquer setor, seja na política, no comércio e em outros, a imprensa também tem o seu lado sombrio, assim como tem o que podemos chamar de refletores, já que levam a luz a partes escuras da nossa sociedade. Existe a imprensa que tem ainda ética e preocupação em levar a informação correta e verídica, como também existe a imprensa mentirosa, sombria, invejosa e – tal como nossos filhos, os políticos – corrupta.
O recente escândalo da farra das passagens aéreas, que o site Congresso em Foco divulgou primeiramente e que é considerado pelas outras mídias e até pelas grandes por sinal como um “furo de reportagem”, infelizmente é ainda apenas o princípio. A ponta de um iceberg fétido do gigantesco mar de lama que assola desde a presidência da república até as câmaras de vereadores em todo o país.
Tanto é verdade, que após a publicação do escândalo da farra das passagens aéreas, “os deputados, pressionados pela opinião pública, começaram a diminuir o valor dos reembolsos que exigem da Câmara. Um levantamento feito pelo Globo indica uma redução de 64% no uso das verbas indenizatórias em abril, na comparação com o mesmo mês de 2008.
No total, os deputados pediram R$ 2,5 milhões em reembolsos no mês passado, relativos a gastos em seus estados com combustível, aluguel e consultorias. Em abril do ano passado, os reembolsos foram de R$ 6,9 milhões. Depois que as contas passaram a ser divulgadas na internet, a média de gasto por parlamentar caiu de R$ 14,3 mil para R$ 5,2 mil” (Fonte: clipping do Ministério do Planejamento).
Não estou a colocar as demais mídias dentro do mesmo balaio. Contudo, não podemos negar o poder financeiro das estatais, dos governos federal ao municipal, com suas peças publicitárias. Não podemos também nos esquecer das grandes indústrias, setor imobiliário e dos bancos. Como resultado, boa parte da mídia se torna refém deste dinheiro e consequentemente se cala diante de determinados fatos delituosos praticados pelos que estão no poder e até dos referidos grandes grupos privados, que têm grandes interesses, não somente comerciais, mas também na compra de determinados parlamentares para assim ficarem tranqüilos quanto aos seus projetos financeiros. Poderia até citar também como um exemplo grande parte da imprensa de Minas Gerais frente ao seu governador, o Sr. Aécio Neves, que no ano de 2007, mas falar mais profundamente sobre o assunto ficará para uma próxima vez.
É claro que essa falta de moral e ética por parte desses nossos filhos, os políticos, não é culpa exclusiva deste atual governo federal, o do PresiMente Lula, o que nada sabe e nada viu. Ao contrário do “primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Gordon Brown, que pediu desculpas pelo recente escândalo envolvendo gastos excessivos de parlamentares acusados de usarem dinheiro público para cobrir despesas "incomuns", como ração de cachorro, esterco de cavalo e filmes pornográficos. "Eu quero pedir desculpas em nome dos políticos pelo que ocorreu", afirmou Brown. O escândalo dos gastos feitos com o dinheiro do contribuinte britânico foi revelado pelo jornal "The Daily Telegraph", que vem publicando diariamente reportagens sobre as despesas de parlamentares registradas desde 2004” (Fonte: Agência Estado).
Podemos até tentar dividir a culpa por omissão com o nosso PresiMente Lula. Mas as transgressões morais e éticas por parte de nossos parlamentares vêm também de governos anteriores que também nada fizeram, se omitiram e até em certas épocas incentivaram tais transgressões em troca de apoio político ao governo federal.
Contudo, essa falta de ética e moral por parte de nossos congressistas e até mesmo do governo federal são o resultado pela ausência de regras rígidas e principalmente claras para que se evitem “deslizes”. Entretanto, essa ausência e a criação de benefícios ficaram mais evidentes quando do governo de Juscelino Kubitschek. O mesmo resolveu transferir a capital do país, que era na cidade do Rio de Janeiro, para o interior do país, no estado de Goiás, criando assim o Distrito Federal e a construção de Brasília. E para apaziguar os contrários a essa idéia, principalmente os congressistas, o então presidente Juscelino Kubitscheck criou diversos benefícios, estendidos aos seus familiares e assessores; quanto também, a maioria dos funcionários públicos da época, sem qualquer controle e regras rígidas para as despesas de todos os envolvidos. O que satisfez e muito os nossos congressistas e seus assessores. Pois naquela época era muito difícil ter um controle e fiscalização sobre as despesas tanto do Congresso como da Presidência da República por parte do eleitorado e até mesmo da imprensa.
Com o advento da internet, o ato de fiscalizar ficou muito mais fácil. Mas ainda existe, e infelizmente é a maioria, quem não se dedica a fiscalizar as ações dos políticos e prefere dedicar seu tempo na internet à leitura de futilidades; a jogar; ou a se tornar uma verdadeira usina de spams, enviando e-mails, em alguns casos até divulgando determinados atos dolosos de alguns políticos, na crença de que assim já fez sua parte na tentativa de moralizar o país. Essas pessoas não têm sequer a curiosidade, a iniciativa de pesquisar mais sobre o assunto e cobrar dos políticos uma atitude que honre a responsabilidade que eles têm. O pior é que esses mesmos que ficam apenas encaminhando emails não têm a coragem de tirar o traseiro da cadeira e ir para as ruas, organizar grupos e assim cobrar maior responsabilidade de seus filhos, os políticos, ou mesmo demonstrar sua insatisfação com os atos deles.
O ponto principal do que estou querendo dizer é que se os nossos políticos não têm ética, moral e principalmente respeito para com o dinheiro público, o nosso dinheiro, é pura responsabilidade nossa, os seus eleitores. E o pior é ainda ter de ouvir que alguns de nossos filhos, os políticos, merecem receber altos salários e diversos benefícios para não correrem o risco de ser corrompidos, como se a ética e a moral estivessem no dinheiro e não em suas consciências. O que novamente enfatizo: esse é o resultado é da nossa falta de responsabilidade para com a educação de nossos filhos, os políticos. Pois eles são frutos do meio em que vivemos.
Ou como defendeu Joseph De Maistre (1753-1821) em, talvez, sua mais famosa frase: “Cada povo tem o governo que merece”. O que é pura realidade e até uma síntese do que estou tentando passar para você, leitor e eleitor.
Em resumo, os políticos, esses nossos filhos, são os FILHOS DA PÁTRIA QUE OS PARIU!
Ou seja, procure também se conscientizar da responsabilidade que tem ao invés de ficar apenas a falar mal, esbravejar e não tomar qualquer atitude. Pode até acreditar que não adianta mais qualquer que seja a ação. Até respeito. Mas não se esqueça, as eleições são já no próximo ano. Responsabilize-se pelo filho, pelo político que vai colocar para lhe representar. Só não esqueça também de educar, esclarecer, dedicar um pouco do seu tempo aos que infelizmente ainda se encontram na escada evolutiva, presos ainda no degrau da ignorância política.
E aqui, para encerrar, vou citar outro grande pensador, Bertolt Brecht (10 de fevereiro de 1898 – 14 de agosto de 1956), que foi um influente dramaturgo, poeta e encenador alemão do século XX, em “O analfabeto político”:
“O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio depende das decisões políticas”.
“O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais”.
*Robson Alves Ribeiro, antes de qualquer título ou profissão, é apenas mais um eleitor brasileiro que ama o seu país, que tenta de todas as formas possíveis, inclusive o www.tourolouco.com.br, o qual é de minha criação e responsabilidade, difundir informações que, acredito, podem ajudar a construir um país melhor e assim deixar para os nossos filhos, netos, bisnetos, parentes, vizinhos, empresários, trabalhadores, desempregados, enfim, para todo o povo brasileiro, um país melhor do que recebemos. Este artigo foi escrito exclusivamente para o site Congresso em Foco como forma de homenagear a toda equipe que o integra.
Dedico ao Sylvio Costa, como forma de agradecimento, por me incentivar a voltar a escrever e deixar as portas do site Congresso em Foco sempre abertas para que possa expressar minhas opiniões. Dedico também ao meu grande amigo e pai virtual, virtual porque apenas ainda não tivemos a oportunidade de nos encontrar pessoalmente, que é arquiteto, professor em Urbanismo, chargista e tal como eu, vive e trabalha na esperança de construir um país melhor, Roque Sponholz. Obrigado por tudo e um pouco mais.